sábado, 5 de março de 2011

Ministra da Cultura desagrada Dilma

O cancelamento, antes de ontem, da nomeação do sociólogo Emir Sader (que ocuparia o lugar de José Almino na presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa) teve o objetivo de tentar por fim à crise que se instalou no Ministério da Cultura (MinC) nas últimas semanas, depois que o intelectual se mostrou contra a posições da pasta e chegou a chamar a atitude da ministra Ana de Hollanda de “autista”. O nome de Emir havia sido indicado para ocupar o cargo, mas sequer chegou a ser publicado no Diário Oficial da União. Com o respaldo do Palácio do Planalto, a ministra anunciou, por nota oficial assinada por ela, que já estava em busca de outro nome – provavelmente o do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos.


No Palácio do Planalto, porém, há o consenso de que Ana de Hollanda ficou extremamente fragilizada com o episódio. Caso ela não mostre autoridade e pulso para conduzir os problemas da Cultura nos próximos meses, será uma forte candidata a deixar o governo numa eventual reforma ministerial. Avaliação feita hoje no Planalto é a de que a ministra não conseguiu conduzir o debate sobre direitos autorais. Ontem, numa entrevista sobre o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, indagada também sobre a permanência da ministra da Cultura, a presidente Dilma Rousseff não respondeu. Um interlocutor que esteve ontem com Dilma lembrou que esta questão virou um embate entre setores do próprio governo, do PT e da sociedade, numa espécie de “Fla x Flu”.



A decisão de sustar a nomeação foi da própria presidente Dilma. O ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, atuou para contornar a crise e tentar reforçar a autoridade da ministra. Segundo interlocutores, Dilma considerou as declarações do sociólogo à imprensa um ato de insubordinação e quebra de hierarquia. Nas palavras de um ministro com acesso ao gabinete presidencial, Emir Sader teria “passado dos limites” e demonstrou não entender como funciona o governo, muito menos a gestão Dilma, em que não há espaço para que subordinados desautorizem publicamente seus superiores.



Nos bastidores, o que se disse foi que a confirmação do sociólogo no cargo inviabilizaria a permanência de Ana à frente da pasta. A avaliação era que, caso Emir permanecesse no governo, abriria um grave precedente, mesmo com o forte apoio que ele tem de setores do PT.



Coube ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, informar Emir Sader que ele não seria mais nomeado para o cargo. O apoio ao nome sociólogo era fortíssimo no PT. Segundo suplente do senador Lindberg Farias (PT-RJ), o sociólogo foi o coordenador do evento de apoio do setor cultural à então candidata Dilma, no segundo turno. O evento reuniu artistas e intelectuais, como o cantor e compositor Chico Buarque, irmão da ministra. Na transição, Emir fez forte lóbi para assumir o Ministério da Cultura, mas foi preterido por Dilma, que pretendia contemplar a questão de gênero na composição do primeiro escalão.



“Lamento a ausência de Emir Sader dentro do governo. Ele daria uma enorme contribuição ao Estado. É um grande pensador brasileiro com enorme disposição para contribuir para o País”, disse o líder do PT, deputado Paulo Teixeira (SP). Uma das críticas de Emir era em relação à redução do orçamento do ministério. A pasta teve um corte de R$ 529,3 milhões, ficando com um orçamento de R$ 806,6 milhões, contra uma previsão original de R$ 1,33 bilhão. Antes, nos vetos presidenciais, o governo já havia cortado R$ 237,3 milhões.
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04/03/2011 - 15:47